Veículo: O Jornal de Hoje
Tipo: Jornal impresso
Data: 29.01.2009
Encontro histórico entre
Roosevelt e Vargas é encenado nas ruas de Natal
Comboio "Conferência do Potengi, 66
anos: reviver a história de Natal" contou com a participação de mais de 80
pessoas, entre pesquisadores, testemunhas e historiadores, durante encenação do
encontro
Há exatos 66 anos, no dia 28 de
janeiro de
Tendo esta data como marco
histórico, a Fundação Rampa - voltada para a pesquisa e resgate histórico da
aviação e suas conseqüências para Natal - promoveu, na manhã de hoje, um evento
para reviver este capítulo. Com apoio da Aeronática,
Marinha Exército, Polícia Militar, STTU, Polícia Rodoviária Federal, Clube do
Carro Antigo, entre outros, a entidade encenou todo o trajeto percorrido.
O presidente da Fundação Rampa,
Marco Sendin, afirmou que o objetivo do grupo e de
seus apoiadores era fazer algo nunca tentado na cidade, ou seja, levar o
conhecimento histórico para as ruas, por meio do teatro e da mídia. De acordo
com ele, mais de 80 pessoas participaram da encenação que percorreu as
principais avenidas da cidade, num trajeto semelhante ao percorrido pelos
líderes, em 1943. "A fundação convocou um verdadeiro exército de amigos e
parceiros para reviver este momento, de tamanha importância para a cidade e
País, porém pouco celebrado. Temos que ter orgulho de nosso povo e de nossa
história", disse Sendin.
O comboio, denominado
"Conferência do Potengi, 66 anos: reviver a
história de Natal" teve como base; pesquisas da fundação, relato de
testemunhas e historiadores, como o professor da UFRN, Lenine Pinto. O final do
evento se deu na Base Aérea de Natal (Bant), onde
ocorreu realmente a conferência. Os convidados de hoje foram levados a um
prédio construído nas instalações, durante a guerra, denominado Cine Navy, ou Cinema da Marinha.
Sobre a Conferência do Potengi, o pesquisador da Fundação Rampa, Frederico
Nicolau, detalhou que Getúlio desembarcou em Natal, no dia 28 de janeiro de
1943, à 1h da madrugada e Roosevelt, no início da manhã, às 7h30, em aviões do
Governo Americano, e ficaram hospedados em navios, também, americanos atracados
no rio Potengi. Frederico contou que Roosevelt
voltava de Casablanca (África), onde tinha se encontrado com o primeiro
ministro britânico Wiston Churchil
e o presidente russo Josef Stalin, enquanto o brasileiro vinha do Rio de
Janeiro, orientado pelo ministro de relações exteriores, Oswaldo Aranha, a
oferecer o envio de tropas para o conflito armado, como prova de maior
envolvimento do País, alem de já possuir base americanas em seu território
desde 1941.
Segundo o pesquisador, no fim da
manhã do dia 28, Vargas e Roosevel almoçaram juntos,
acompanhados das mais diversas autoridades, como o brigadeiro Eduardo Gomes,
almirante Ary Parreira e o comandante da esquadra norte-americana do Atlântico
Sul, almirante Jonas H. Ingrhan, além de diplomatas
americanos e do interventor Federal no Rio Grande do Norte, Rafael Fernandes.
"Logo em seguida, eles seguiram de barco pelo rio até as instalações da
Rampa. Dando início ao evento de maior importância para as relações exteriores
no período. Depois, ficou certo o envio da Força Expedicionária Brasileira
(FEB)", revela o pesquisador.
Frederico detalhou que a visita à
Rampa deu início a inspeção de todas as instalações militares
americanas existentes na cidade, como o 16º Regimento de Infantaria, Base Naval
e Base Aérea de Natal.
Entretanto, diferentemente da proposta colocada em prática pela Fundação Rampa, na época o encontro dos presidentes foi cercado de sigilo, até mesmo para os militares brasileiros.
Natalense
relembra passagem dos dois presidentes na Praça Cívica
Testemunha viva do fato, hoje aos
83 anos, Alda Ivanoska Fernandes Ribeiro, filha do
então secretário-geral do Estado, Aldo Fernandes Ribeiro de Melo, relatou ter
visto Roosevelt e Vargas - conhecido por "GG" - passando em carro
aberto, pela avenida Potengi,
nas proximidades da praça Pedro Velho, atualmente, praça Cívica.
"Foi tudo muito sigiloso,
ninguém sabia, nem mesmo meu pai. Quando eu vi, corri para um telefone que
tinha na praça e liguei para casa, avisando papai que vira GG, num Jeep. Depois papai revelou que naquele dia pediram um carro
do governo para a Rampa, somente um carro e um motorista de confiança. Papai
mandou Sr. Bianor, que depois relatou o "passeio"
onde tinha um "aleijadinho" que todo mundo paparicava, desconhecendo
aquela pessoa ser o presidente americano", conta Ivanoska.
Outra testemunha, o historiador,
escritor e professor da UFRN, Lenine Pinto, 79 anos, relatou ter visto o
caminho de volta de Vargas e Roosevelt, dentro de um carro fechado, no
cruzamento da avenida Deodoro da Fonseca e rua Acre,
hoje José Pinto. Ele contou que no fim da tarde, após perceber uma movimentação
diferente nas ruas, ouviu sirenes e ao correr alcançou o comboio de carros.
"Reconheci de imediato Getúlio e só depois vi quem era o outro. O navio
deles ficou no rio Potengi, de frente a Tavares de
Lira", conta Lenine.