Veículo: O Jornal de Hoje

Tipo: Jornal impresso

Data: 10.01.2009

 

Ex-militar americano lembra do tempo da guerra em Natal

 

John Harrison, o “Jack”, é ex-fotógrafo da Marinha americana e esteve em Natal entre 1942 e 1943, na missão de vigiar a costa brasileira contra os submarinos alemães durante a 2ª Guerra Mundial

 

A passagem dos norte-americanos por Natal, durante a Segunda Guerra Mundial, é do conhecimento de muita gente. No entanto, as reais ações e o que eles faziam em terras potiguares pouco se divulga. Por isso, a Fundação Rampa está empenhada em resgatar parte desta história e tornar público a importância de Natal no cenário mundial e como a cidade ajudou os países aliados a vencer o conflito bélico, o maior já ocorrido até então.

Através da Fundação Rampa, O Jornal de Hoje entrevistou o ex-combatente, John R.Harrison, o "Jack", 84 anos, ex-fotógrafo da Marinha Americana. Hoje, morando nos Estados Unidos, Jack serviu em Natal entre os anos de 1942 e 1943, pelo esquadrão VP-83, formado por aeronaves anfíbias "PBY Catalina", responsáveis por vigiar a costa contra submarinos alemães.

Com uma boa memória, o ex-fotógrafo ainda lembra bem de Natal e de localidades vizinhas, onde costumava ir, como a lagoa do Bonfim, citada por ele como "Bonfim Lagoon". De acordo com Jack, o local era utilizado pelos americanos em três ocasiões, primeiro para instrução de pouso e decolagem, segundo para lavar as aeronaves e por último, a mais disputada, como área de lazer. "Íamos à Ribeira e ao Grande Hotel, mas da lagoa eu lembro da cerveja e do gelo. Era um momento de descontração, apesar da responsabilidade, pois até mulheres da sociedade eram levadas nos aviões para lá. Lembro também de uma placa dizendo para não comermos amêndoas - provavelmente a castanha do caju - por conter cianeto, pois queimavam a boca", lembra o ex-militar.

Entre os fatos que marcaram sua passagem pela lagoa do Bonfim estão a estada dos pilotos russos, que vieram ter instrução nos Catalinas, em 1943, e a notícia da queda de uma das aeronaves, em 1944, na mata, após decolar. A passagem dos russos por Natal se deu oito anos após a revolução comunista ocorrida no nordeste, quando em 1937 a cidade teve por 3 dias um governo comuna. Jack disse que não lembra se a população tratou bem ou não os visitantes, mas relatou que a ordem dos superiores deles era de não se sociabilizar com os americanos. "Uma vez eles foram beber no Grand Hotel, mas cada um pagou e saiu sem muita conversa. Outra vez tentamos fazer amizade e propomos um jogo de xadrez, no entanto, eles eram muito melhor do que nós e as partidas não duravam. Era cerca de dez russos que partiram, mais americanos, em seis aeronaves com as estrelas vermelhas pintadas na fuselagem", relata Jack.