Túmulo do piloto e diretor do Syndicato Condor, Max Sauer
Antes do roubo da lápide
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A ação dos vândalos não poupa nem a memória
dos mortos. Esta é a única constatação
que a Fundação Rampa obteve em fevereiro de 2011 ao
descobri que malfeitores haviam depredado os túmulos dos
aviadores alemães sepultados no cemitério do Alecrim,
em Natal, desde 1931. Max Christian Sauer, Rudolf Karwat e Franz
Noether foram vítimas do segundo desastre aéreo, com
morte, no Rio Grande do Norte, quando o avião “Olinda”
acidentou-se tentando decolar no rio Potengi ao colidir numa embarcação
encalhada.
No avião, havia ainda um quarto tripulante, o engenheiro
Paul Hein, que sobreviveu e voltou à Alemanha. Apesar de
algumas tentativas, a Fundação Rampa não conseguiu
saber o que aconteceu com ele após o acidente. Contudo, os
colaboradores da entidade na Europa trabalham no caso.
Seus túmulos eram adornados cada um com uma placa de bronze,
com o nome, função, data de nascimento, data do acidente
e com o dizer; “Homenagem dos seus companheiros. Syndicato
Condor”. Além disso, havia em alto relevo a imagem
de um ser alado e uma hélice envolta por folhas.
A Fundação Rampa tenta contato com o consulado alemão
no Brasil, com objetivo de repor as lápides levadas. Caso
não consiga, a entidade pretende colocar réplicas
no local das originais, tendo em vista a dificuldade de recuperá-las.
O diretor-secretário da Frampa, Augusto Maranhão,
destacou que o valor material das placas de bronze é são
irrelevantes se comparado com a memória histórica
da cidade e que o fato revelou um problema mais amplo na sociedade
potiguar. “Estão roubando até o mortos agora
e o poder público não pode fica de braços cruzados.
Não é porque são pilotos alemães. O
fato é a depredação de todo o cemitério,
onde a maior parte dos túmulos faltam peças e adornos”,
comenta o diretor-secretário.
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Cenário da partida com trajeto para a decolagem do
Olida
Em condições normais o avião teria
decolado logo após o porto
Situação imaginada pelo piloto Pery com influência
da falha mecânica
Cenário proposto pelo pesquisador Frederico Nicolau
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O Desastre
A empresa de correio aéreo Syndicato Condor tinha Natal
como base de apoio desde janeiro de 1930, com uma grande estrutura
de prédios – alojamentos, refeitório, oficinas
e um hangar - , nas margens do rio Potengi, onde hoje existe as
instalações do 17º Grupamento de Artilharia de
Campanha do Exército.
Cerca de um ano depois do início das atividades em solo
potiguar, pousa no rio o Dornier Wal denominado “Olinda”,
vindo de Fernando de Noronha onde recebeu a mala postal trazida
da Europa por meio de navio. Sem autonomia de vôo, o Olinda
vinha de Noronha, amerissava em Natal e daqui seguiria viagem pelo
litoral até o sul do País.
Na noite de 11 de setembro de 1931, o piloto Max Sauer pousa no
rio Potengi, acompanhado do segundo-piloto Rudolf Karwat, do rádio-telegrafista
Franz Noether e do mecânico Paul Hein. Horas depois, por volta
das 23h30, a tripulação retorna ao “Olinda”
e refazem o trecho do rio para a decolagem, saindo da base do Syndicato
Condor, passando pela gamboa que dava acesso ao aeródromo
da Zona Norte, porto de Natal e dos cais da Tavares de Lira, até
alcançar a posição ideal para a decolagem.
Com dois motores potentes, instalados acima da aeronave em linha,
um de frente para o outro, o piloto dar potência causando
um enorme barulho na cidade. A partir daí existem muitas
especulações, tendo em vista a carência na época
para investigar acidentes aéreos.
Para o pioneiro da aviação potiguar e colaborador
da Fundação Rampa, Pery Lamartine, apesar da escuridão
e falta de sinalização, os pilotos da época
tinham segurança para operar tais aeronaves, por isso, ele
acredita em falha mecânica. Pery especula que ao dar potência,
a aeronave alcançou uma velocidade considerável, contudo,
não alçou vôo. “É possível
que um dos motores tenha perdido força o avião perdeu
direção indo para a margem esquerda do rio onde atingiu
o barco”, diz Pery.
Com experiência de ter voado na região e pousado
no aeródromo da Zona Norte, próximo ao local do acidente,
Pery afirma a existência de um vento de 20 quilômetros
por hora que, também, poderia empurrar a aeronave e causar
o desastre.
Já o diretor de ensino e pesquisa da Fundação
Rampa, Frederico Nicolau, considera mais provável a versão
do jornal da época, na qual o piloto passou pelo cais da
Tavares de Lira, Porto de Natal até chegar nas proximidades
da base alemã sem sucesso de vôo. “Ao tentar
retornar para tentar uma nova decolagem, que por algum motivo não
ocorreu, o piloto se desorientou e bateu no barco encalhado. A falta
de sinalização ajudou a causar o acidente”,
afirma Frederico.
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